sexta-feira, 22 de abril de 2011

CONHEÇA AS MEDITAÇÕES QUE ACONTECEU ESTA NOITE NO COLISEU ( conosco mais de uma centena de blog esparramado no mundo )

  VEJA AS PALAVRAS DO SANTO  PADRE NO FINAL DAS MEDITAÇÕES BEM A BAIXO NO FINAL.
DEPARTAMENTO DAS CELEBRAÇÕES LITÚRGICAS
DO SUMO PONTÍFICE
PRESIDIDA PELO SANTO PADRE
BENTO XVI
SEXTA-FEIRA SANTA DE 2011
Ir. Maria Rita Piccione, O.S.A.
Presidente da Federação dos Mosteiros Agostinianos da Itália«Nossa Senhora do Bom Conselho»
APRESENTAÇÃO
«Se alguém contemplasse de longe a sua pátria mas de permeio estivesse o mar, veria aonde chegar, mas não disporia dos meios para ir até lá. O mesmo se passa connosco… Vislumbramos a meta a alcançar, mas de permeio está o mar do século presente… Ora, a fim de que pudéssemos dispor também dos meios para lá chegar, veio de lá Aquele para quem nós queríamos ir… e forneceu-nos o madeiro com o qual atravessar o mar. De facto, ninguém pode atravessar o mar do século presente, se não é levado pela cruz de Cristo… Não abandones [pois] a cruz, e a cruz te levará».
Estas palavras de Santo Agostinho, tiradas do seu Comentário ao Evangelho de João (2, 2), introduzem-nos na oração da Via-Sacra.
De facto, a Via-Sacra quer estimular em nós este gesto de nos agarrarmos ao madeiro da Cruz de Cristo ao longo do mar da vida. Por isso, a Via-Sacra não é uma simples prática de devoção popular com carácter sentimental; mas exprime a essência da experiência cristã: «Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me» (Mc 8, 34).
É por este motivo que, cada Sexta-feira Santa, o Santo Padre percorre a Via-Sacra à vista de todo o mundo e em comunhão com ele.
Para a preparação da Via-Sacra deste ano, o Papa Bento XVI dirigiu-se ao mundo monástico agostiniano feminino, confiando a redacção dos textos à Ir. Maria Rita Piccione, O.S.A., Presidente da Federação dos Mosteiros Agostinianos da Itália «Nossa Senhora do Bom Conselho».
A Ir. Maria Rita, que pertence ao Ermo Agostiniano de Leccetto (Sena) – um dos eremitérios toscanos do século XIII, berço da Ordem de Santo Agostinho – é actualmente membro da Comunidade dos Santos Quatro Coroados, em Roma, onde tem a sua sede a Casa comum de Formação para as Noviças e as Religiosas Professas Agostinianas da Itália.
E não são apenas os textos que são de uma monja agostiniana; também as imagens ganharam forma e tonalidade a partir de uma sensibilidade artística feminina e agostiniana. A Ir. Helena Maria Manganelli, O.S.A., do Ermo de Leccetto, outrora escultora de profissão, é a autora dos quadros que ilustram as várias estações da Via-Sacra.
Esta interligação de palavra, forma e tonalidade comunica-nos algo da espiritualidade agostiniana, que se inspira na primitiva comunidade de Jerusalém e funda-se na comunhão de vida.
É de benefício para todos saber que a preparação desta Via-Sacra nasce da experiência de monjas que «juntas vivem, pensam, rezam, dialogam», segundo o retrato vivo e eloquente que Romano Guardini esboça de uma comunidade monástica agostiniana.
No início de cada estação, depois da habitual enunciação, aparece uma frase muito breve que pretende oferecer a chave de leitura da respectiva estação. Idealmente podemos recebê-la como que vinda de uma criança, numa espécie de apelo à simplicidade dos pequeninos que sabem captar o coração da realidade e num espaço simbólico de acolhimento, na oração de Igreja, da voz da infância por vezes ofendida e explorada.
A Palavra de Deus, que será proclamada, é tirada do Evangelho de João, à excepção das estações sem texto evangélico de referência ou que o têm noutros evangelhos. Com esta escolha, pretendeu-se evidenciar a mensagem de glória da Cruz de Jesus.
Depois o texto bíblico é ilustrado por uma reflexão breve, mas clara e original.
A oração dirigida ao «Humilde Jesus» – expressão cara ao coração de Agostinho (Conf. 7, 18, 24) –, que deixa cair o adjectivo humilde na crucifixão-exaltação de Cristo, é a confissão que a Igreja-Esposa dirige ao Esposo que a redimiu com o seu Sangue.
Segue-se uma invocação ao Espírito Santo, que guia os nossos passos e que derrama no nosso coração o amor divino (cf. Rm 5, 5): é a Igreja apostólico-petrina que bate à porta do coração de Deus.
Cada uma das estações individualiza uma pegada particular deixada por Jesus ao longo do Caminho da Cruz, que o crente é chamado a copiar. Assim os passos que marcam o caminho da Via-Sacra são: verdade, honestidade, humildade, oração, obediência, liberdade, paciência, conversão, perseverança, essencialidade, realeza, dom de si mesmo, maternidade, expectativa silenciosa.
Os quadros da Ir. Helena Maria – sem figuras nem elementos acessórios, mas essenciais na cor – apresentam Jesus sozinho na sua Paixão, que atravessa a terra deserta nela escavando um sulco e regando-o com a sua graça. Um raio de  luz, sempre presente e colocado de modo a formar uma cruz, indica o olhar do Pai, enquanto a sombra de uma pomba, o Espírito Santo, recorda que Cristo, «pelo Espírito eterno, Se ofereceu a Si mesmo a Deus, sem mácula» (Heb 9, 14).
Com este contributo para a oração da Via-Sacra, as Monjas Agostinianas desejam prestar um preito de amor à Igreja e ao Santo Padre Bento XVI, em profunda sintonia com a particular veneração e fidelidade que a Ordem Agostiniana professa à Igreja e aos Sumos Pontífices.
Agradecemos a estas duas irmãs, a Ir. Maria Rita e a Ir. Helena Maria, que, alimentadas pela contínua meditação da Palavra de Deus e dos escritos de Santo Agostinho e sustentadas pela oração das Comunidades da Federação, aceitaram, com toda a simplicidade, partilhar a sua experiência de Cristo e do Mistério Pascal, num ano em que a celebração da Santa Páscoa tem lugar precisamente a 24 de Abril, dia do aniversário do Baptismo de Santo Agostinho.

 INTRODUÇÃO
Cristo padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos[1].
Irmãos e Irmãs em Cristo,
encontramo-nos, esta noite, no sugestivo cenário do Coliseu romano, convocados pela Palavra agora mesmo proclamada, para percorrer, juntamente com o Santo Padre Bento XVI, o Caminho da Cruz de Jesus.
Fixemos o nosso olhar interior em Cristo e invoquemo-Lo com coração ardente: «Peço-Vos, Senhor! Dizei à minha alma: sou Eu a tua salvação! Dizei-o de maneira que eu o ouça!»[2].
A sua voz animadora cruza-se com o fio débil do nosso «sim» e o Espírito Santo, dedo de Deus, tece a trama segura da fé que conforta e conduz.
Seguir, acreditar, rezar: eis os passos simples e seguros que sustentam a nossa estrada ao longo do Caminho da Cruz e nos deixam vislumbrar, gradualmente, o caminho da Verdade e da Vida.

[1] 1 Ped 2, 21.
[2] S. Agostinho, Confissões 1, 5, 5 (doravante todas as citações, diversas da Sagrada Escritura, que não indiquem o autor são de S. Agostinho).
ORAÇÃO INICIAL
O Santo Padre:
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R/.
 Amen.
O Santo Padre:
Oremos.
(breve pausa de silêncio)
Senhor Jesus,
Vós nos convidais a seguir-Vos também
nesta vossa hora extrema.
Em Vós, está cada um de nós
e nós, apesar de muitos, somos Um só em Vós.
Na vossa hora, está presente a hora da provação
da nossa vida,
nos seus aspectos mais crus e duros;
está presente a hora da paixão da vossa Igreja
e da humanidade inteira.
Está presente a hora das trevas:
quando «tremem os fundamentos da terra»[1]
e o homem, «parcela da vossa criação»[2],
geme e sofre com ela;
quando as várias máscaras da mentira
ridicularizam a verdade
e as lisonjas do sucesso sufocam
o apelo íntimo da honestidade;
quando o vazio de sentido e de valores
anula a obra educativa
e a desordem do coração desfigura a ingenuidade
dos pequeninos e dos débeis;
quando o homem perde o caminho
que o leva ao Pai
e já não reconhece em Vós
o rosto belo da própria humanidade.
Nesta hora, insinua-se a tentação da fuga,
o sentimento da desolação e da angústia,
enquanto a traça da dúvida corrói a mente
e, como no palco, o pano da escuridão cai sobre a alma.
E Vós, Senhor,
que ledes no livro aberto do nosso frágil coração,
voltais a perguntar-nos nesta noite,
como um dia aos Doze:
«Também vós quereis ir embora?»[3].
Não, Senhor,
não podemos nem queremos ir embora,
porque só «Vós tendes palavras de vida eterna»[4],
Só Vós sois «a palavra da verdade»[5]
e a vossa Cruz
é a única «chave que nos abre aos segredos
da verdade e da vida»[6].
«Nós Vos seguiremos para onde quer que fordes!»[7].
Nesta adesão, está a nossa adoração,
enquanto, do horizonte do ainda não,
um raio de alegria
beija o do nosso caminho.

R/. Amen.   Amados irmãos e irmãs,

Esta noite, na fé, acompanhámos Jesus, que percorre o último trecho do seu caminho terreno, o trecho mais doloroso: o do Calvário. Ouvimos o alarido da multidão, as palavras da condenação, o ludíbrio dos soldados, o pranto da Virgem Maria e das outras mulheres. Agora mergulhámos no silêncio desta noite, no silêncio da cruz, no silêncio da morte. É um silêncio que guarda em si o peso do sofrimento do homem rejeitado, oprimido, esmagado, o peso do pecado que desfigura o seu rosto, o peso do mal. Esta noite, no íntimo do nosso coração, revivemos o drama de Jesus, carregado com o sofrimento, o mal, o pecado do homem.

E agora, que resta diante dos nossos olhos? Resta um Crucificado; uma Cruz levantada no Gólgota, uma Cruz que parece determinar a derrota definitiva d’Aquele que trouxera a luz a quem estava mergulhado na escuridão, d’Aquele que falara da força do perdão e da misericórdia, que convidara a acreditar no amor infinito de Deus por cada pessoa humana. Desprezado e repelido pelos homens, está diante de nós o «homem de dores, afeito ao sofrimento, como aquele a quem se volta a cara» (Is 53, 3).

Mas fixemos bem aquele homem crucificado entre a terra e o céu, contemplemo-lo com um olhar mais profundo, e descobriremos que a Cruz não é o sinal da vitória da morte, do pecado, do mal, mas o sinal luminoso do amor, mais ainda, da imensidão do amor de Deus, daquilo que não teríamos jamais podido pedir, imaginar ou esperar: Deus debruçou-Se sobre nós, abaixou-Se até chegar ao ângulo mais escuro da nossa vida, para nos estender a mão e atrair-nos a Si, levar-nos até Ele. A Cruz fala-nos do amor supremo de Deus e convida-nos a renovar, hoje, a nossa fé na força deste amor, a crer que em cada situação da nossa vida, da história, do mundo, Deus é capaz de vencer a morte, o pecado, o mal, e dar-nos uma vida nova, ressuscitada. Na morte do Filho de Deus na cruz, há o gérmen de uma nova esperança de vida, como o grão de trigo que morre no seio da terra.

Nesta noite carregada de silêncio, carregada de esperança, ressoa o convite que Deus nos dirige através das palavras de Santo Agostinho: «Tende fé! Vireis a Mim e haveis de saborear os bens da minha mesa, como é verdade que Eu não recusei saborear os males da vossa mesa... Prometi-vos a minha vida... Como antecipação, franqueei-vos a minha morte, como que para vos dizer: Convido-vos a participar na minha vida... É uma vida onde ninguém morre, uma vida verdadeiramente feliz, que oferece um alimento incorruptível, um alimento que restabelece e nunca acaba. A meta a que vos convido... é a amizade como o Pai e o Espírito Santo, é a ceia eterna, é a comunhão comigo ... é participar na minha vida» (cf. Discurso 231, 5).

Fixemos o nosso olhar em Jesus Crucificado e peçamos, rezando: Iluminai, Senhor, o nosso coração, para Vos podermos seguir pelo caminho da Cruz; fazei morrer em nós o «homem velho», ligado ao egoísmo, ao mal, ao pecado, e tornai-nos «homens novos», mulheres e homens santos, transformados e animados pelo vosso amor.

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