sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

DISCURSO DE FRANCISCO NA CASA BRANCA



 Como primeiro compromisso desta quarta-feira (23) nos Estados Unidos, Papa Francisco, recebido no país como chefe de Estado, chegou à Casa Branca num carro simples e foi recepcionado pelos anfitriões Barack Obama e sua esposa Michelle. Cerca de 20 mil pessoas acompanharam a cerimônia de boas-vindas no parque localizado ao sul da residência oficial do presidente. Entre os presentes, cardeais e bispos estadunidenses.
Depois das honras militares e da execução dos hinos do Vaticano e dos EUA, o presidente Barack Obama começou sua saudação de boas-vindas, enaltecendo o dia lindo que recebia o Papa no país e, em nome da família, agradeceu oficialmente a visita. “O nosso jardim não está sempre assim lotado”, brincou Obama, “mas o espírito e o tamanho do encontro de hoje é um pequeno exemplar dos 70 milhões de católicos dos EUA. Reflete também a sua mensagem de amor e fé”, disse o presidente ao Papa, uma mensagem que chega às pessoas do mundo inteiro.
“Hoje temos muitas primeiras ocasiões”, acrescentou o presidente dos Estados Unidos: “o senhor é o primeiro Papa das Américas. Esta é a sua primeira visita aos EUA. E o senhor também é o primeiro Papa a dividir isso com a população”.
Obama, então, sublinhou que todos os estadunidenses sabem do papel que a Igreja católica tem no país. Inclusive o próprio presidente, quando lembrou do tempo em que morava em Chicago e trabalhava com os pobres: “Pude testemunhar isso todos os dias com as irmãs e os sacerdotes que alimentavam as famílias, com a fé de tantos. Da Argentina ao Quênia, a Igreja está presente em diversas atividades”, enalteceu Obama sobre uma Igreja que quer quebrar as correntes da pobreza.
“Precisamos tirar os pobres da pobreza e os marginalizados das ruas. Lutar contra a desigualdade, porque todos somos feitos à imagem de Deus. A mensagem mais poderosa de Deus é a misericórdia”, disse Obama ao enfatizar a compaixão e o amor que todos precisamos ter por quem sofre, citando refugiados, imigrantes, cristãos perseguidos, igrejas destruídas. “Ajudar eles é imperativo pela paz!”.
Em público, então, Barack Obama agradeceu a mediação do Papa entre as negociações entre Cuba e EUA: “agradecemos pelo novo início com o povo cubano e vamos manter a promessa de manter uma melhor relação entre os nossos países”. O presidente também agradeceu pela voz ativa do Papa contra os conflitos armados e os sinais da guerra, pela proteção tanto do planeta e como dos mais vulneráveis devido às mudanças climáticas. “O senhor está nos sacudindo pra gente acordar! O senhor mexe com a nossa consciência”, finalizou Obama em sua saudação de boas-vindas ao Papa.
Já no seu primeiro discurso nos Estados Unidos, em uma das “primeiras ocasiões” como salientou Obama, Francisco disse se sentir feliz, “como filho de uma família de imigrantes, por ser hóspede nesta nação, que foi construída em grande parte por famílias semelhantes”.
Sobre a visita ao Congresso dos Estados Unidos, o Santo Padre falou que espera encorajar “todos aqueles que são chamados a guiar o futuro político da nação com fidelidade aos seus princípios fundadores”. Já sobre a ida à Filadélfia para o VIII Encontro Mundial das Famílias, o Papa comentou que irá “para celebrar e apoiar as instituições do matrimônio e da família, neste momento crítico da história da nossa civilização”.
Ao se referir aos católicos dos Estados Unidos, Papa Francisco reiterou a construção de uma sociedade tolerante e inclusiva, “na defesa dos direitos dos indivíduos e das comunidades, e rejeitando qualquer forma de discriminação injusta”.
“A liberdade religiosa permanece como uma das conquistas mais valiosas da América. E, como os meus irmãos bispos dos Estados Unidos nos lembraram, todos somos chamados a vigiar, precisamente como bons cidadãos, para preservar e defender essa liberdade de tudo que possa colocá-la em perigo ou comprometê-la.”
Ao se dirigir ao presidente Obama, o Santo Padre considerou promissor o fato de ele ter proposto uma iniciativa para a redução da poluição do ar.
“A história nos colocou num momento crucial quanto ao cuidado da nossa ‘casa comum’. Mas ainda estamos em tempo de empreender mudanças que assegurem ‘um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar’ (Enc. Laudato si’, 13). São mudanças que exigem de nós um reconhecimento sério e responsável do tipo de mundo que podemos deixar não só aos nossos filhos, mas também aos milhões de pessoas sujeitas a um sistema que as tem negligenciado. A nossa casa comum foi parte deste grupo de excluídos que grita aos céus e que hoje bate com força às portas das nossas casas, cidades e sociedade.”
Papa Francisco citou Martin Luther King ao afirmar “que estivemos em falta quanto a alguns compromissos e, agora, chegou a hora de honrâ-los”. Além do “cuidado consciente e responsável da nossa casa comum”, o Santo Padre pontuou o caminho da reconciliação, da justiça e da liberdade através dos “esforços feitos recentemente para reconciliar relações que haviam sido rompidas e para a abertura de novas vias de cooperação dentro da família humana”.
“Almejo que todos os homens e mulheres de boa vontade desta grande e próspera nação apoiem os esforços da comunidade internacional para proteger os mais vulneráveis no nosso mundo e promover modelos integrais e inclusivos de desenvolvimento, de modo que, em todo o lado, os nossos irmãos e irmãs possam conhecer as bênçãos da paz e da prosperidade que Deus deseja para todos os seus filhos.”
Com o Coro da Arquidiocese de Washington que finalizava a cerimônia de boas-vindas, o Papa Francisco e o presidente Barack Obama se dirigiram para um encontro privado na Sala Oval da Casa Branca. Além da apresentação de familiares e fotos oficiais, houve troca de presentes: o Pontífice deu a Obama um quadro com a insígnia em bronze do VIII Encontro Mundial das Famílias de Filadélfia, com o mesmo desenho da medalha pontifícia preparada para a viagem apostólica. 

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