sábado, 25 de fevereiro de 2017

FRANCISCO: ISSO NÃO É UNIVERSIDADE... IDEOLOGIA, NÃO!!

                                         

 O Papa optou por entregar o discurso que tinha preparado ao Reitor, preferindo falar em estilo coloquial em resposta às perguntas que lhe tinham sido colocadas por quatro estudantes.
Esta é a primeira vez que o Papa Francisco visita uma universidade publica em Roma e esclareceu imediatamente a sua ideia de universidade: um lugar de “diálogo na diferença”. 
Com 25 anos de vida, a “Universidade Roma 3”  tem cerca de 43 mil inscritos, um milhar dos quais chegaram hoje muito cedo no adro da Universidade para acolher Francisco.
Logo à sua chegada Francisco foi saudado pelo Reitor Mário Panizza e por outras autoridades universitárias. Depois, tendo ao seu lado uma tradutora na linguagem dos sinais para os surdos, começou por responder a uma pergunta sobre a violência que, infelizmente, persiste na sociedade. Francisco faz notar que há violência no exprimir-se, no falar, por vezes nos esquecemos mesmo “dar bom dia”.
“A violência é um processo que torna cada vez mais anónimos: tira--nos o nome. Anónimos uns em relação aos outros (…). Mas isto que vemos aqui, está a crescer e torna-se violência mundial. Ninguém hoje pode negar que estamos numa guerra e esta é uma guerra mundial aos bocados, mas há. É necessário abaixar um pouco a voz e escutar mais”.
Num mundo em que – faz notar Francisco – também “a politica desceu tanto”, perdendo o “sentido da construção social, da convivência social, o primeiro remédio contra a violência é o do coração que “sabe receber”, num diálogo que nos “aproxima”  na escuta do outro:
“A paciência do diálogo. E onde não há diálogo, há violência. Falei de guerra: é verdade, estamos em guerra. É verdade. Mas as guerras não começam ali: começam no coração, eh!, no nosso coração. Quando não sou capaz de exprimir-me perante os outros, de respeitar os outros, de falar com os outros, de dialogar com os outros, ali começa a guerra”.
A universidade – sublinhou Francisco – é, pelo contrário,  um lugar “onde se deve dialogar, onde há lugar para todos”, cada um com o seu próprio modo de pensar. Outros lugares, observa, onde isto não acontece não podem ser considerados da mesma forma:
“As universidade de elite, que são geralmente as chamadas universidades ideológicas (…) e onde te ensina apenas esta linha de pensamento (…) essa não é universidade: onde não há diálogo, onde não há confrontação de ideias, onde não há escuta, onde não há respeito pela maneira de pensar do outro, onde não há amizade, onde não há a alegria do jogo, o desporto, tudo isso, não há universidade. Todos juntos.”
O convite do Papa aos estudantes é, portanto, “procurar sempre a unidade, conceito “totalmente” diferente da uniformidade.  O perigo hoje a nível mundial – disse o Papa – é “conceber a globalização na uniformidade”. A via a seguir é a de um modelo poliédrico:
“Há uma globalização poliédrica, há uma unidade, mas cada pessoa, cada raça, cada país, cada cultura conserva sempre a sua própria identidade. E isto é unidade na diversidade que a globalização deve procurar”.
Também a comunicação – frisou o Papa – está a trazer uma certa celeridade, uma “rapidazione” – diz usando um termo comum aos holandeses  e explica:
“Muitas vezes a comunicação é tão rápida, tão ligeira que pode tornar-se líquida , sem consistência e isto é um dos perigos desta sociedade” – referiu, citando Baum. E nós “devemos assumir o desafio de transformar esta sociedade líquida em algo de concreto”.
O Papa disse depois que o drama da “liquidez” verifica-se também na economia. Há países ditos desenvolvidos, como na Europa, que não conseguem garantir trabalho a uma alta percentagem de jovens:
“Esta liquidez da economia tira o caracter concreto do trabalho e tira a cultura do trabalho porque não se pode trabalhar, os jovens não sabem o que fazer”. São explorados, caiem na ratoeira das dependências que os levam a suicídios, a integrar-se “num exército terrorista”. Serve – repetiu o Papa – uma economia concreta, no mundo, na Europa.
O Papa recordou depois que este continente caracterizado na sua história “por invasões, migrações” teme hoje perder a própria “identidade” se “vierem pessoas de uma outra cultura”. As migrações voltou a sublinhar Francisco “não são um perigo”, mas sim “um desafio para nos fazer crescer”.
Falou da ilha de Lesbos, onde disse “sofreu tanto” e recordou as pessoas que fogem da África e do Médio Oriente:
“Porque há guerra e fogem da guerra, ou há fome: fogem da fome. Mas qual seria a solução  ideal? Que não haja guerra e que não haja fome, quer dizer fazer as pazes, fazer investimentos naqueles lugares a fim de que haja recursos para trabalhar e ganhar a vida”.
É um convite, o do Papa, a “não explorar “. E dirige-o aos “potentes”  da Terra, assim como também aos criminosos que gerem os tráficos de seres humanos, os barcos carregados de migrantes que morrem no Mediterrâneo, um mar que se tornou num cemitério.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

COMO NASCEU O ( MESCEs) MINISTRO DA EUCARISTIA?

Ministros da Eucaristia: uma iniciativa Vicentina


Matéria publicada no Jornal mensal “O VICENTINO”, de Batatais-SP, em agosto de 1999, nº 124, ano XIII, páginas 6-8. Matéria republicada no Jornal “O VICENTINO”, em junho de 2000, nº 132, ano XIV, página 6. Matéria republicada no Jornal “O VICENTINO”, em agosto de 2010, nº 132, ano XXIV, páginas 6-7. Agora virou livro devido às ínúmeras solicitações.
“Passei a noite quase toda atendendo confissão. O senhor sabe que sou doente, agora de manhã, fui visitar os enfermos, levar a comunhão, já quase meio dia, não tomei nada, cansado! Será que o Concílio que está de portas abertas para a renovação da Igreja: será que o Papa, os Bispos, Cardeais, não dariam a permissão para um leigo distribuir a comunhão? Me ajudar aqui?”
Pergunta o então Pároco de Bambuí-MG, o Missionário Vicentino Pe. José Nunes Coelho, CM, no final de 1965, em carta dirigida ao seu Bispo, o também vicentino D. Belchior Joaquim da Silva Neto, CM, na época o titular da Diocese de Luz-MG, que se encontrava em Roma participando do Concílio Vaticano II.
Nascia naquele momento a ideia da instituição do MINISTRO EXTRAORDINÁRIO DA EUCARISTIA, hoje adotada nas Paróquias do mundo todo e que tanto contribui para o trabalho pastoral do Padre.
D. Belchior apresenta a sugestão, foi um espanto! Claro que as barreiras surgiram, e ele ainda ouviu de vários colegas:
“O senhor está louco! O senhor vai expor o SS. Sacramento à profanação”; “Para o pão consagrado, só mãos consagradas, senhor Bispo!”; - “Se o Papa permitir isso, daqui a pouco até mulheres estarão distribuindo a comunhão”; “Pelo amor de Deus, não espalhe isso, não! É um escândalo, onde já se viu isso! Colocar a hóstia consagrada na mão de leigos! Na minha Diocese isso não entra.”
Tudo isso D. Belchior ouviu pacientemente e finalmente em maio de 1966, veio a autorização de Roma, primeiro a três Irmãos, e em seguida a dez leigos. A partir de 1970 o Papa autorizava para todo o mundo.
Hoje (1999), D. Belchior é Bispo Emérito de Luz-MG, e um colaborador especial do jornal “O Vicentino”, de Batatais-SP. Em sua residência, ele narra à nossa reportagem, e pela primeira vez em nível nacional, todo o desenrolar do processo.

Ministros da Eucaristia: uma iniciativa Vicentina

Uma decisão importantíssima da Igreja Católica tomada no final da década de 1960, e que trouxe resultados marcantes para o bom desenvolvimento do trabalho paroquial, foi a instituição do Ministro Extraordinário da Eucaristia. Como é do conhecimento de todos, há uma carência de Sacerdotes em todo o mundo, principalmente num país-continente como o nosso, de uma enorme população católica e um número reduzido de Padres para atendê-la. A Igreja, através do saudoso Papa Paulo VI, concedeu em 1966, inicialmente no Brasil e depois em 1970 no mundo inteiro, que fosse criado o Ministro Extraordinário da Eucaristia, autorizando-o a distribuir a Sagrada Comunhão; fazer o Culto Dominical, na ausência do Padre; expor o SS. Sacramento; fazer a Encomendação dos defuntos, entre outras.
O mundo todo hoje reconhece o sucesso dessa iniciativa que veio auxiliar e muito, o Pároco, redimensionando o seu trabalho. No entanto, poucos sabem que ela surgiu de umbrasileiro, um vicentino na verdadeira acepção do termo, que segundo suas próprias palavras: “Sou um vicentino que tem orgulho de ter nascido na Conferência Vicentina.” D. Belchior Joaquim da Silva Neto, CM - Bispo Emérito de Luz/MG.

Através do casal amigo: Cfr. Geraldo da Silva Dias e Aparecida Célia Dias, de Sto. Antônio do Monte/MG (ele, Presidente do Conselho Central da SSVP e nosso representante naquela cidade), chegou ao conhecimento deste jornal “O VICENTINO”, este fato. Com intuito de bem informar nossos leitores, fomos constatar com o próprio D. Belchior, hoje nosso Colaborador Especial -, em sua residência em Luz-MG. Ali carinhosamente recepcionados por ele, o querido irmão vicentino nos concedeu esta entrevista:

O Vicentino: D. Belchior, como surgiu a ideia da criação do Ministro Extraordinário da Eucaristia?

D. Belchior: Estávamos em 1965, terminando o Concílio Ecumênico Vaticano II em Roma. Eu era Bispo novo, tinha meus 42 anos, e desde o começo frequentei todas as reuniões e como Bispo novo a gente é sempre acanhado, pensei, não vou entrar no meio desses maiorais, para manifestar as minhas ideias. Mas, acontece que na última fase do Concílio, mês de setembro ou outubro, já “preparando as malas para vir embora para o Brasil, chega uma carta do Pe. José Nunes Coelho, CM, vigário de Bambui-MG, (foto abaixo) meu colega de seminário. Dizia ele: “Senhor Bispo, passei a noite quase toda atendendo confissão. O senhor sabe que sou doente, agora de manhã, fui visitar os enfermos, levar a comunhão, já quase meio-dia, não tomei nada, cansado! Será que o Concílio que está de portas abertas para a renovação da Igreja; será que o Papa, os Bispos, Cardeais, não dariam a permissão para um leigo distribuir a comunhão? Me ajudar aqui?
Uma carta longa! Eu pensei, pensei... não vou consultar a ninguém, porque aqui estamos entre duas alas: os Bispos conservadores, como D. Alexandre, D. Castro Maia, e tantos outros e os Bispos mais atualizados com a Igreja. Pensei, não vou consultar que vai dar confusão. Vou à Cúria Romana, vou mostrar a carta e falar com eles. Abram esse caminho para a Igreja! O Padre sozinho, se matando numa paróquia! Fui à Cúria Romana, Sagrada Congregação dos Sacramentos; os quatro Monsenhores me receberam, atenciosos, mas quando toquei neste assunto, eles me disseram: “Senhor Bispo, vai desculpar, o senhor está entrando num assunto delicadíssimo, expondo o Santíssimo Sacramento à profanação! Entenda, para hóstias consagradas, só mãos consagradas senhor Bispo!” Eu disse: mas, essa carta aqui, olhem, o Padre trabalhou tanto tempo! Eles responderam: “É, mas se permitir isso, o senhor vai expor o Santíssimo Sacramento à profanação.” E um deles ainda disse assim: “Se o Papa permitir isso, daqui a pouco até mulheres estarão distribuindo a comunhão!”
Imaginem o que havia naquele tempo! Eu logo vi, tenho que andar devagar. Disse-lhes: senhores Monsenhores, vão me desculpar, mas o Papa Pio XII em uma determinada época, permitiu religiosos levar a comunhão aos doentes. De modos que, quem sabe... Eles retrucaram: “Isso é coisa do Papa, coisa passada, mas hoje não se permite isso.” Saí dali triste, decepcionado. Mas, um daqueles Monsenhores, me acompanhou até a portaria, e disse-me: “Senhor Bispo, o senhor tem facilidade em escrever em latim?” Disse-lhe: sou professor de latim no Seminário. “Escreva uma carta em latim, conte tudo isso, as dificuldades que os padres têm na sua Diocese, são poucos, e se matam no Apostolado da Eucaristia. E quem sabe, o senhor vai diretamente ao Papa, mande uma carta em latim ao Papa. O secretário do Papa, Monsenhor Samoré (ele não era Cardeal ainda), se compraz em dizer que entende bem a língua portuguesa, mande uma carta em português a ele, para ele levar em mãos ao Papa.” Falei, está bom. Agradeci muito a ele, fui ao Domus Mariae, onde estávamos hospedados, escrevi a carta em latim, outra em português, e fui diretamente à Secretaria de Estado. Cheguei lá, o Monsenhor Samoré estava muito gripado, não pode me atender. Mas o secretário dele, quando lhe contei que levava uma carta em latim e o motivo desta carta, e que ele poderia levá-la ao Papa, ele me disse: “O senhor escreveu em português? Ele vai delirar! Porque ele se compraz em dizer que entende bem o português”. Entreguei lá e vim embora.

O Vicentino: Em que data foi autorizado o primeiro Ministro?

D. Belchior: Quando foi o ano seguinte, em 1966, recebi isso aqui - carta com a devida autorização, com data de 7 de maio de 1966 (Veja pág. 8 - “no final desta reportagem”). Primeiro eu pedi para três religiosos, um irmão da Congregação de São Gabriel, professor Necci que está aqui ainda; para um outro irmão da Congregação da Divina Providência, Ir. Eugênio; e o terceiro para um irmão dos Padres Sacramentinos, Frei Pio, Diretor da Obra da Boa-Imprensa. Foi a primeira resposta que recebi. Depois eu pedi a licença para os leigos também. Veio a licença para esses três Irmãos, e depois veio uma carta da Secretaria de Estado: “O Papa pede para fazer a experiência com dez leigos: homens experimentados, de piedade comprovada, e que mereçam toda a confiança, que façam um curso, uma preparação, e tenham uma veste especial, para caracterizá-los, um distintivo especial para mostrar que eles estão encarregados de uma missão muito importante.” É justamente o que usam os Ministros hoje.

O Vicentino: D. Belchior, esta sugestão já tinha sido apresentada ao Chefe Supremo da Igreja antes ou ela é pioneira em todo o mundo?

D. Belchior: Não, nada consta. Foi uma novidade. Em 1965, o Concílio estava terminando, eles disseram uma coisa que eu não disse aqui: “Olha uma coisa dessas, senhor Bispo, deveria ser tratado quando nós preparamos a Constituição Apostólica sobre o “Sacrosanctum Concilium”. O senhor deixou passar, agora não há mais tempo para tratar disso, já estamos no fim do Concílio.”

O Vicentino: E hoje, esta prática é adotada universalmente?

D. Belchior: Desde 1970, fiquei sabendo que o Papa permitiu para o mundo todo. Agora quanto às mulheres, os Padres mesmo foram facilitando. Por quê a discriminação? Mas lá na Sagrada Congregação eles falaram comigo: “Se o Papa permitir isso, daqui a pouco até mulheres estarão dando comunhão!” Já pensaram?

O Vicentino: Então, da Diocese de Luz/MG, saíram os primeiros Ministros da Eucaristia do mundo?

D. Belchior: Sim, podem levar as cópias desses documentos para publicarem, que vieram de Roma.

O Vicentino: Quais os primeiros leigos que se tornaram Ministros?

D. Belchior: Quando recebi a resposta autorizando fazer uma experiência com dez leigos, imediatamente fui a Bambuí falar com o Pe. José Nunes. Visitamos alguns candidatos de reconhecida idoneidade moral e piedade comprovada, mas nenhum deles aceitou o convite, talvez por medo de ser considerados clericais ou eclesiásticos. Nem o Fão, de Bambuí, o Manuel Soares, de Tapiraí, o José Namitala, de Medeiros. (Na foto ao lado os primeiros Ministros; hoje, falta escanear a foto).
De volta, eu estava com um Padre novo, meu amigo, e eu lhe disse: que nome daremos a esses distribuidores da comunhão? O que você acha? Ele pensou, e disse-me: “Acólitos”. Eu disse: Acólito é um nome difícil de falar, depois acrescentei: eles são Ministros, e para ministrar. Aí ele disse, “que tal Ministro da Eucaristia”? Eu lhe disse: É muito pomposo esse nome, Ministro da Eucaristia é o Padre, então poderemos dizer “Ministro Extraordinário da Eucaristia”, que é o nome correto.
Escrevi a Roma dizendo que fizera experiência com dez homens de piedade comprovada, conhecidos na Diocese, a maioria confrades vicentinos, e estão distribuindo a comunhão aos doentes, ajudando o vigário na Paróquia, e comungando com as suas próprias mãos. Recebi a resposta imediatamente: “Faça experiência com mais dez e nos conte como eles estão procedendo.” Fiz igualzinho em 1967 ou 68, não me lembro bem.

O Vicentino: Qual foi a receptividade dos Bispos Brasileiros sobre a questão?

D. Belchior: Aqui no Brasil, teve muitos Bispos que não aceitaram de jeito nenhum, não aprovaram. Teve um, de uma Diocese do Norte de Minas, que veio aqui estar comigo. “Senhor Bispo, pelo amor de Deus, não espalhe isso não! É um escândalo, onde já se viu isso! Colocar a hóstia consagrada nas mãos de leigos! Na minha Diocese isso não entra.” Eu lhe respondi: “Já está feito, o que vamos fazer agora? É tocar para frente, eu acho que isso vai fazer muito bem à Igreja.” Ele já morreu. Hoje tem outro Bispo lá, e recentemente eu estive com ele e ouvi dele: “Foi a maior bênção na nossa Diocese. Todas as Paróquias já têm Ministros.” Estão vendo? Pelo menos essa alegria eu levarei para junto de Deus. Encontrei muitas dificuldades no começo, me chamaram até de louco, “Isso é loucura, senhor Bispo!”

O Vicentino: D. Belchior, o senhor nunca publicou este fato tão importante para a Igreja?

D. Belchior: Eu só publiquei isso aqui no nosso “Jornal de Luz”, porque D. João Resende Costa, e D. Serafim, de Belo Horizonte me disseram: “D. Belchior, o senhor nunca escreveu nada sobre isso?” Disse-lhes: “Não escrevi e não vou escrever, porque isso fica parecendo vaidade. Porque é algo que tomou vulto maior do que eu poderia pensar, e eu não vou entrar nessa não.” D. João Resende Costa, que me sagrou Bispo disse-me: “D. Belchior, em consciência, o senhor é obrigado a contar como aconteceu isso, sobretudo os vexames que o senhor passou.”

O Vicentino: O “Jornal de Luz” publicou em maio/97 com o título “Como nasceram os Ministros da Eucaristia”, matéria (diga-se de passagem muito bem elaborada) onde o senhor narra todo este acontecimento. Agora, em nível nacional é a primeira vez que isso é levado ao conhecimento público?

D. Belchior: Sim, eu só falei antes em 97 ao nosso jornal aqui da cidade.

Quem é D. Belchior?

Nasceu em Araújos, Minas Gerais, próximo a Bom Despacho, Centro-Oeste Mineiro, aos 7 de novembro de 1918. Primeiro filho do casal Belchior Joaquim da Silva Zico (1895-1978) e de Anita Maria da Silva (1898-1959). Fez o curso primário em Luz, para onde seus pais mudaram-se em 1922. Aos 13 anos de idade, foi estudar no Colégio do Caraça, da Congregação da Missão (fundada em Paris/França, por São Vicente de Paulo em 1625), onde cursou o 1° e 2° graus, e posteriormente ingressou no Seminário Maior de Petrópolis-RJ. Ordenou-se Sacerdote pelas mãos de D. João Cavatti, CM - Bispo de Caratinga-MG, em 8 de dezembro de 1945 em Petrópolis, tornando-se Missionário Lazarista Vicentino. Seu primeiro trabalho foi como professor no Seminário de Diamantina-MG e depois Reitor dos Seminários Menor e Maior, permanecendo ali sete anos. Por determinação dos Superiores, transferiu-se para o Seminário S. Vicente de Paulo de Fortaleza-CE, para a Escola Apostólica, ficando lá três anos, pregando nas capitais da região. No fim de 1955, faleceu o Superior de Diamantina, Pe. José Pires, e ele veio substituí-lo por um ano. Retorna a Fortaleza, para assumir o maior Seminário do Nordeste, o Seminário de Prainha, onde estudaram D. Hélder, D. Eugênio, grandes Bispos Arcebispos e Cardeais. No dia 24 de abril de 1960, na Matriz de São José do Calafate, em Belo Horizonte-MG, D. João Resende Costa o sagrou Bispo da Diocese de Luz, nomeado pelo Papa João XXIII. E onde ficou até completar os 75 anos de idade, quando, de acordo com o Código do Direito Canônico pediu um substituto. Em 18 de maio de 1994, passou o báculo a Dom Eurico dos Santos Veloso, que dirige a Diocese.

O Sacerdote de Cristo

Minha vocação é até curiosa: Eu nunca tinha pensado em ser Padre. Meu pai vendeu a fazenda e montou um estabelecimento comercial em Perdigão. Ele ficou cego de uma vista e o médico o aconselhara a mudar-se para a cidade. Lá ficou sabendo que existia um lugar chamado Aterrado (hoje Luz), onde o dinheiro corre; é o “Império do Café”, como dizia antigamente. Me lembro, viemos a cavalo, eu tinha quatro anos, Pe. Tobias tinha dois, minha irmãzinha Maria do Carmo estava ainda nos braços e viemos para cá. Somos oito irmãos: quatro casados, quatro consagrados a Deus.
Uma Freira, um Padre, um Bispo e um Arcebispo que é o Arcebispo de Belém do Pará, D. Vicente Joaquim Zico. Os outros irmãos casaram-se muito bem, graças a Deus, são pais de muitos filhos.
Papai abriu um comércio aqui e se deu maravilhosamente. Do comércio, ele passou a trabalhar em Banco. Foi gerente do Banco Minas Gerais, correspondente do Banco da Lavoura, e do Banco Hipotecário. Meu pai saiu-se bem em tudo o que mexia. Foi convidado para entrar para a política, ele disse: “Isso eu não entro não”. “Não é política, o senhor vai ser o nosso Prefeito”, disseram. Primeiro Getúlio Vargas, estava escolhendo os Intendentes Municipais: papai foi o escolhido. Mais tarde concorreu em eleição com a maior figura daqui, o Dr. Josafá Macedo e venceu com uma maioria de votos tremenda. Tínhamos naquela época cerca de 3.500 votos, só não votaram nele 400 eleitores... Eu sempre fui um menino muito levado, gostava de jogar bola e um dia estava numa ‘pelada’ como se diz, em frente à nossa casa, numa poeira danada, quando entrou um menino que não era dos nossos, um ex-seminarista, que chegava do Caraça. Ele dirigiu-se a mim dizendo: “É verdade que você vai estudar no Colégio?” Respondi: estou com as malas prontas, vou para o Colégio São Geraldo de Pará de Minas. Aí ele disse-me: “Por que você não vai estudar no Caraça?” Eu falei: “O que e isso?” “Olha, o Caraça é o maior Colégio de Minas Gerais, agora estão mudando de Colégio para Seminário, mas vá lá para estudar. Se servir para Padre, bem, se não servir não tem importância, dali você pode entrar para uma Faculdade e abraçar qualquer profissão diferente.” E confidenciou-me: “Mas, para você ser feliz, você tem que dizer que quer ser Padre. Aí você já entra com um bom cartaz.” Pensei, então vou começar agora. Acabou o jogo. Cheguei em casa. Minha mãe e minha avó estavam lá. “As suas malas estão prontas, seu pai vai levá-lo na próxima semana para o Colégio em Pará de Minas.” Falei: mamãe, eu vou dizer uma coisa: não quero ir para lá não. “Mas, o que é isso? Você já falou com seu pai. está tudo combinado, o enxoval pronto.” É que agora eu resolvi: quero ser Padre. Elas riram! “Ser Padre? Você nunca falou isso! Não tem Padre na nossa família; por quê ser Padre?” A senhora nem queria saber o Dezico, o rapaz que falou comigo, disse que lá no Caraça é bom demais. Tem muita laranja, frutas em quantidade. Futebol? Tem dois campos. Nadar? Tem dois tanques (não se falava piscina); e um rio passa em frente ao Colégio. Agora eu quero é ser Padre mesmo. Mamãe: “Então é para isso que você quer ser Padre? Não fale isso a seu pai.”
Meu pai era um Vicentino desses firmes, positivo! Era o pobre e Deus, Deus e o pobre. Não venha com falcatruas que ele não aceitava. Mamãe continuou: “Não vai dizer ao seu pai que você vai por causa das laranjas, futebol; ele não deixa. De mais a mais, o enxoval está pronto.”
Então como faço? Vovó disse-me: “Se seu pai perguntar o motivo, diz que é por causa de Deus e salvação das almas”. Falei, Nossa Senhora que trem difícil de falar! Nisso papai entra. “Como é que é, está tudo pronto? se referia ao almoço. Vovó não resistiu: “Sabe o que o Belchiorzinho está falando? Está querendo ser Padre!” Ele me perguntou: “Por quê você quer ser Padre?” Eu disse-lhe: “Papai, a vovó que sabe... Mas eu quero.” Antes de ele morrer, ainda me disse brincando: “No começo você nem sabia porquê queria ser Padre.”
Veja que coincidência, minha família vicentina, eu não sabia que São Vicente tinha fundado uma Congregação, e fui ser Padre Missionário desta Congregação. Depois foram meus irmãos: Pe. Tobias, Luiz, e o mais novo, Vicente, atual Arcebispo de Belém do Pará. Luiz não continuou, ficou doente, depois casou-se muito bem, mora em Belo Horizonte.
O fato é que venci os estudos com certa facilidade, graças a Deus. Nunca repeti ano. Nas vésperas de ser Padre, fiz os votos de castidade, pobreza e obediência na Congregação. É claro que a gente que é homem, vem logo o ponto de vista de castidade e, na véspera do subdiaconato me lembro que era uma hora da madrugada, vi a luz acesa do quarto do reitor. Estava de pijama e fui lá. Ele me disse: “Que é que houve?” Eu disse: “Não vou continuar, não sirvo para Padre. Padre tem que fazer votos de castidade, e muito difícil; não sei se dou conta.” Ele disse-me: “Você veio me avisar que vai embora, ou veio pedir uma palavra minha, um conselho?” Claro que a sua palavra é importante. O senhor é o meu diretor; era o Pe. Antônio Mourão. “Então venha aqui no fim do ano (era mais ou menos outubro ou novembro); no fim do ano você vai dizer a sua palavra decisiva”. Resumindo, até hoje não voltei. Pensei, se é sacrifício, o maior sacrifício que eu posso fazer a Deus e entregar a minha vida, e Ele vai tomar conta de mim. Se Ele me criou à sua imagem e semelhança, se Ele me criou para uma missão para cumprir, e ela está aqui na minha frente, eu vou me afastar, vou renegar a este chamado? Agora, não esperava ser Bispo.

SSVP na SUA vida

Meu pai desde rapazinho frequentava a Conferência Vicentina de Perdigão, porque não existia em Araújos. Quando começou a aparecer o povoado, meu pai juntou-se ao “preto”, um antigo escravo da fazenda, que era carne e osso com o papai, e disse: “Agora vamos a Araújos.” “Mas lá não tem Conferência”, disse o escravo. “Então nos vamos fundar uma lá.” É a Conferência de São Sebastião, até hoje funcionando.
Mudando para o Aterrado, que se tornou a cidade de Luz, meu pai também fundou Conferências. Participava de tudo e fazia questão de me levar, ainda menino, para a Conferência. Ele fundou a Conferência de São Luiz para nós: eu, o Tobias, o Vicente, as meninas; nós íamos com o meu pai. De modos que nasci na Conferência Vicentina.
Me considero um vicentino, me orgulho de ser Vicentino, tenho a minha Conferência aqui, que é a Nossa Senhora Aparecida. Com a minha doença não tenho podido frequentá-la, mas sempre depois da Missa nós nos reuníamos. Sou membro desta Conferência. Não apenas me considero vicentino, mas tenho uma admiração louca pelos vicentinos.

O Vicentino: D. Belchior muito obrigado pela carinhosa acolhida, pela entrevista e pelas suas colaborações que honram e enriquecem este jornal. Esperamos continuar merecendo-as.

D. Belchior: Eu é que tenho que agradecer muito. Vocês sabem, sou vicentino de coração, entrei no Ministério de Deus, pela Congregação de São Vicente de Paulo. Nunca pensava que pelo fato de ser um humilde vicentino, ser chamado com os meus irmãos, para uma Congregação fundada por São Vicente de Paulo!
Agradeço muito a vocês, uma visita dessas, é uma visita de um representante de São Vicente de Paulo. Muito obrigado.

NUNCIATURA APOSTÓLICA DO BRASIL
Prot. Nº 985/66

1. a) Se se tratar de administrar a Sagrada Comunhão nas Igrejas ou oratórios públicos, a pessoa idônea deverá ser designada tendo em consideração a seguinte ordem e condição: clérigo “in sacris” ou, quando o sujeito tenha uma certa maturidade; clérigo com ordens menores, ou tonsurado, ou religiosos com votos, ou catequista, ou, enfim, um simples fiel. Neste último caso, o fiel deve ser de idade madura, do sexo masculino, distinguir-se pela vida cristã, fé e moralidade, além de ter uma instrução condizente com tão nobre ofício, e deverá receber o mandato com algum ritual solene. A pessoa idônea poderá administrar a Sagrada Comunhão aos fieis de ambos os sexos, nas Igrejas e oratórios e levá-la também aos doentes.
b) Se se tratar de administrar a Sagrada Comunhão nos oratórios das Comunidades Religiosas masculinas ou femininas, em orfanatos, hospitais, colégios, institutos dirigidos por Religiosos ou Religiosas, os citados Pastores poderão obter a faculdade de permitir ao Superior ou a Superiora a administração da Sagrada Comunhão aos respectivos religiosos e a todos os presentes em tais lugares.
2. A pessoa idônea, o Superior, a Superiora, constituídos como acima, antes de administrar a Sagrada Comunhão, lavar-se-ão as mãos, recitarão em seguida junto com os presentes o “Confiteor”, o “Domine non sum dignus” (omitindo “Tibi Pater” e “Te Pater”) e dizendo “Corpus Christi”; terminado o rito, em vaso adaptado purificarão os dedos. As mesmas pessoas poderão elas próprias dar-se a Santíssima Eucaristia. A pessoa idônea e o Superior Religioso, administrando a Sagrada Comunhão, vestirão o hábito talar com cota; a Superiora vestirá o próprio hábito.
3. Recomenda-se que na aplicação deste extraordinário remédio concedido justamente em via de todo excepcional, seja afastado todo perigo de irreverência para com o Santíssimo Sacramento, não só, mas se proceda com grande cautela e circunspecção. Tenha-se, além disso, presente que para qualquer dúvida os Sagrados Pastores deverão recorrer a esta Sagrada Congregação, à qual farão, pelo menos cada ano, uma relação a respeito.
(Carimbo da Nunciatura Apostólica do Brasil)
Roma, 7 de maio de 1966

CARTA COLETIVA

(De D. Belchior Joaquim da Silva Neto, CM, aos Padres da Diocese de Luz em 7 de novembro de 1967)

Caríssimos Padres, L. J. C.

Esta missiva é um apêndice ou anexo necessário ao “BOLETIM DO CLERO”; sobre o Ministro da Eucaristia em nossa Diocese, concedido, graciosamente pelo Santo Padre, em vista da promoção do Leigo ao serviço da Igreja.
O Documento vem datado de 20 do corrente, ou antes de outubro findo (prot. 1951/66- 15246), autorizando os leigos a exercerem o ministério da Eucaristia em favor do povo de Deus. Podemos, portanto, assim definir-lhes as faculdades:

1ª - receberem a S. Comunhão das próprias mãos ou darem-se pessoalmente a comunhão.
2ª - levarem a S. Comunhão aos enfermos.
3ª - ajudarem a distribuir a S. Comunhão na Igreja, caso esteja o vigário ocupado ou seja, grande acúmulo de fiéis.
4ª - fazerem o Culto dominical, em ausência do vigário, explicarem as sagradas leituras, ao alcance dos fiéis, ajudarem a administração dos Sacramentos.
5ª - Exporem o SS. Sacramento para adorações e Horas Santas.
6ª - proporcionarem a Bênção do SS. Sacramento, com exposição e reclusão das S. Espécies.
7ª - fazerem e Encomendação dos defuntos com as orações do Ritual.

Atenção: pedimos aos RR. vigários fazerem a apresentação dos candidatos.
1° - que sejam cristãos exemplares na Paróquia ou nas Capelas onde vão exercer o ministério da Eucaristia.
2º - que, mesmos casados, não sejam gananciosos ou interesseiros, visando qualquer lucro, pois será um ofício inteiramente gracioso, sem remuneração, baseado na caridade, no que esta virtude tem de mais sublime, que é o ministério Eucarístico.
3º - que não sejam políticos ou militantes ostensivamente em facções políticas, pois seria trazer odiosidade para serviço tão santo e grandioso.
4° - que tenham certa cultura, podendo ler os livros santos, Epístolas, Evangelhos, para uma conveniente explicação aos fiéis, no Culto Dominical.
Com o exercício do ministério, daremos, depois, outros esclarecimentos.
Servo Humble em Cristo N. Senhor
D. Belchior - Bispo Diocesano de Luz

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A Família Vicentina Brasileira está de luto, faleceu Dom Belchior
Matéria publicada no Jornal “O VICENTINO”, em junho de 2000, nº 132, ano XIV, páginas 1 e 3:

Nosso querido “colaborador Especial” partiu rumo à Casa do Pai, deixando um enorme vazio entre nós. Por outro lado, fica a certeza de termos mais um grande intercessor junto a Deus pelos pobres, a quem amava e por todos os seus amigos, que são inúmeros por todo o Brasil.

O pobre que na terra socorremos é quem, um dia, nós encontraremos correndo a abrir-nos os portões do Céu!”

Que estas palavras de São Vicente de Paulo, contidas no último soneto de autoria de Dom Belchior, enviado a este jornal para publicação, ainda escrito a mão, possa servir de introdução da triste nota de falecimento deste nosso amigo, irmão vicentino, colaborador e incentivador, Sua Excelência Revma. Dom Belchior Joaquim da Silva Neto, CM - Bispo Emérito de Luz/MG.
D. Belchior, que tinha 81anos de idade, foi vítima de um derrame cerebral, levado a Belo Horizonte, lá veio a falecer na noite do dia 24 de maio de 2000. Seu corpo foi transladado para sua cidade na manhã do dia 25, perma­necendo na majestosa Cate­dral de Nossa Senhora da Luz, sendo sepul­tado ali mesmo no dia seguinte. Durante todo o velório se fizeram presentes a popu­lação de Luz, representantes de toda a região, principal­mente seus confrades e consócias da SSVP, pois D. Belchior era também um confrade da Conferência Nossa Senhora Aparecida, desta cidade. Os pobres, a quem ele tinha um carinho especial também vieram se despedir do seu protetor e amigo; cenas emocionantes de gente simples, alguns até deficientes amparados por outros, choravam em volta daquele corpo, outrora ágil, entusiástico, vibrante, brin­calhão e que agora repou­sava inerte numa urna mortuária.
Os confrades Leandrini e Olímpio, representando O Vicentinodo qual D. Belchior era colaborador, estiveram presentes na tarde/noite do dia 25, às derradeiras homenagens ao ilustre prelado da Igreja Católica, aquele que sugeriu ao Papa a instituição dos “Ministros da Eucaristia”; o Cardeal D. Serafim Fernandes, presidiu a celebração da última Missa, às 9 h do dia 26, concele­brada por inúmeros Bispos, Arcebispos, Padres da área diocesana e vários dos seus coirmãos, entre eles, o Superior Provincial, Pe. Eli Chaves dos Santos, CM. Logo depois, seu corpo baixou sepultura naquela mesma Igreja onde sua voz inflama­da, entusiasmada e poética ecoou durante 34 anos!
Do comunicado oficial da PBCM (Província Brasi­leira da Congregação da Missão), destaca-se:
“Irmão, amigo e pastor, três palavras que podem sintetizar a longa e fecunda caminhada de Dom Belchior, um homem de uma rica e original personalidade e que, totalmente apaixonado pela causa de Jesus Cristo e seu Evangelho, desenvol­veu uma intensa, ardorosa e diversificada ação pasto­ral. Como bispo, animou a Diocese mais com o coração do que com grandes e sofisticados planos pastorais. Bastante simples e de uma joviali­dade contagiante, procurava fazer-se presente às pes­soas e nos mais diversos lugares, possuía um cari­nho muito grande pelos pobres e com todas as pessoas se relacionava com incrível amabilidade. Com palavras e gestos, irradiava alegria, entu­siasmo e ardor apostólico.”

Poeta, Romancista, Escri­tor, deixa inúmeras obras publicadas muitas delas em várias edições. Mas, o que realmente D. Belchior deixa mesmo, e todos que tiveram a ventura de conhecê-lo hão de concordar, é uma saudade imensa que jamais se apagará na memória daqueles que desfrutaram da sua amizade, do seu convívio.
Adeus, Dom Belchior, não esqueça de nós porque o senhor nunca será esque­cido. Até um dia!

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Ministros Extraordinários da Eucaristia
Domingo, 6 de maio de 2012

O Concílio Vaticano II esclareceu que a Igreja, toda ela, em todos seus segmentos, é servidora. Os padres não são os únicos ministros. Notar bem que ministério significa serviço!
O Ministro Extraordinário da Eucaristia é, na Igreja Católica, um leigo a quem é dada permissão, de forma temporária ou permanente, de distribuir a comunhão aos fiéis, na missa ou noutras circunstâncias, quando não há um ministro ordenado (
bispopresbítero ou diácono) que o possa fazer.
Como o número de sacerdotes, geralmente e em muitos lugares, é insuficiente para atender todas as tarefas que lhe competem, foi instituído o Ministério Extraordinário da Eucaristia, ou da Comunhão, como preferem alguns.
Na Celebração da Eucaristia, os Ministros da Eucaristia ajudam o padre na distribuição da Comunhão. Eles podem também atender os doentes, levando para eles, em suas casas ou nos hospitais, a santa Comunhão.
O trabalho pode ser exercido pelos Ministros da Eucaristia é “extraordinário”, isto é, não é verdadeiramente próprio. O sacerdote é o ministro extraordinário da Eucaristia. Por causa do grande volume de afazeres, e por causa de existir um número insuficiente de padres e diáconos, foi instituído o “Ministério Extraordinário”.
O mandato para exercer o Ministério Extraordinário da Eucaristia não é permanente. Essa função é temporária. O tempo do mandato deve ser estabelecido pelo bispo. Pode ser renovado, conforme as circunstâncias. Mas, é bom que haja alternância de ministros para que ninguém se sinta melhor que os outros. A responsabilidade é muito grande e o ministro deve ser uma pessoa, homem ou mulher, de vida exemplar.
Nos lugares onde não há habitualmente um sacerdote, os ministros podem presidir a Celebração da Palavra. Nessas celebrações, feitas geralmente aos sábados à noite e aos domingos, os ministros distribuem a comunhão. Logicamente, as hóstias devem ser aquelas que foram consagradas previamente, quando um sacerdote rezou Missa na comunidade.
Fonte: http://missoespopulares.blogspot.com.br/

HOMENAGEM AO DIACONATO

                                               
A comunidade da Paróquia Santa Teresinha de Lisieux, do Setor Colombo, celebrou no Sábado, dia 28 de Janeiro, a Santa Missa em Ação de Graças pelos 19 anos de Ordenação do Diácono Osmar Vieira.
Fiéis de algumas comunidades da Paróquia participaram da Celebração presidida pelo Pároco Padre Jefferson, que durante a homília, lembrou da importância do trabalho dos diáconos em uma Paróquia auxiliando nos serviços em diversas pastorais e movimentos.
O Diácono Osmar Vieira 63, natural de Coronel Vivida - PR recebeu o Sacramento da Ordem no grau de Diaconado permanente pela imposição das mãos e Oração consecratória do então Arcebispo da Arquidiocese de Curitiba Dom Pedro Fedalto, hoje emérito. Concedido no dia 25 de Janeiro de 1988, na Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Luz dos Pinhais em Curitiba, juntamente com outros 22 diáconos permanentes, a primeira turma formada e ordenada na restauração do Diaconado permanente na Arquidiocese Curitiba.
A O Diácono exerce suas atividades no tríplice múnus: da Palavra, da Liturgia e da Caridade.
A instituição do Diaconado está descrita na Bíblia no Livro dos Atos dos Apóstolos capitulo seis, versículos de três a seis na escolha dos sete primeiros diáconos.
 “Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício.
Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra.
Este parecer agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.
Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos”.

PESQUISA: CAPELINHAS É DESTAQUE NO MUNDO!!


Oi Tarcísio, antes de mais nada quero desejar um feliz 2017 para você e sua família!

Quero também contar pra você - e espero que possa disseminar a mensagem no movimento das capelinhas - que o artigo que escrevemos com base na pesquisa feita junto ao movimento das capelinhas de Curitiba foi aceito para publicação em uma revista internacional chamada Journal of Macromarketing.


O processo de revisão do artigo foi bem rigoroso, mas estamos muito contentes com o texto final. Está em inglês, mas vou traduzir o resumo e mandar para vocês.


Um grande abraço e muito obrigada outra vez por abrir as portas para me receber e contar mais sobre o movimento para mim 🙂


 Estimado Tarcísio, 

Segue também o artigo (em inglês), e aqui uma tradução do resumo. A linguagem é bem teórica, mas essencialmente estamos explicando que a Igreja promove a circulação das capelinhas para gerar valor espiritual, social, e econômico - e que o entrelaçamento desses três tipos de valor é o que ajuda a sustentar o movimento como uma economia alternativa, diferente do capitalismo e das relações de consumo.

Este estudo examina como a circulação de objetos - a transferência recorrente de objetos entre membros de um grupo - pode ser usada para promover um regime de valor híbrido em economias alternativas. Pesquisas anteriores apontam que as economias alternativas abrigam múltiplas concepções do que é valioso, sugerindo que o hibridismo pode ajudar a sustentar economias alternativas. Este estudo mobiliza dados etnográficos e netnográficos para examinar a circulação de objetos singularizados em uma economia alternativa brasileira, baseada na religião para iluminar a constituição do hibridismo de regimes de valor. Os resultados explicam como a instituição governante desta economia - a Igreja - promove um regime de valor híbrido, promovendo a criação de múltiplos tipos de valor e incentivando seu entrelaçamento. Discutimos como o hibridismo do regime de valor reduz a tensão e a crítica dirigida à economia alternativa e promove a interdependência de recursos entre distintos participantes.


Abraço,


Daiane Scaraboto
Assistant Professor of Marketing
Escuela de Administración
Pontificia Universidad Católica de Chile
T:+56 2354-4340 ext. 1594
http://uc-cl.academia.edu/DaianeScaraboto 
05 Janeiro 2017

Este antigo ritual católico está dando à economia brasileira um pequeno impulso, uma estatueta da Virgem Maria por vez


A Virgem Maria pode não ser capaz de afastar o Brasil de uma profunda recessão, mas sua casa patrocinada pela igreja faz maravilhas para aliviar o mal-estar econômico entre as famílias católicas participantes. Pilar Olivares / Reuters

Os brasileiros estão se afastando do catolicismo . Hoje, menos de 50% dos brasileiros se identificam como católicos romanos, contra 92% em 1970 . Mas, após 500 anos na América do Sul, a Igreja Católica permanece profundamente enraizada na economia e na sociedade do Brasil.
Entre os seus muitos pontos de vista, há uma tradição pouco conhecida chamada Movimento das Capelinhas , ou "pequeno movimento de capela". Esse fenômeno, que ocorre em centenas de cidades e vilas do Brasil, centra-se na circulação entre as famílias católicas de pequenos santuários que contêm uma Estatueta da Virgem Maria.

Economias alternativas em ascensão

O Movimento das Capelinhas é um exemplo de uma rede colaborativa baseada em circulação , uma espécie de economia hiper-local que está aparecendo em todo o mundo, da moeda alternativa de um distrito de Londres aos bancos de tempo da Nova Zelândia .
Tais sistemas apelam porque trocam um foco estreito no valor econômico (apenas o dinheiro importa) para uma definição mais ampla do que tem valor para as pessoas. Ao circular objetos queridos em um certo padrão, essas redes colaborativas distribuem seus benefícios a todos os envolvidos, e o "lucro" vai muito além das pequenas comunidades econômicas que as comunidades podem ver.
O pequeno movimento da capela faz parte de uma longa história de rituais católicos que envolvem relíquias sagradas e estátuas enviadas para visitar as paróquias mundiais .
Protegidos por suas casas de madeira, Marys moventes do Brasil pagam "visitas" de um dia às casas dos vários paroquianos em um processo semi-formal determinado por vizinhos, paróquias e voluntários leigos. A maioria dos grupos de capelas inclui cerca de 30 famílias, de modo que cada família recebe uma visita por mês. O clero local supervisiona o progresso de Marys em torno da cidade




Mary faz uma visita a uma casa em Campos Novos. Daiane Scaraboto

Ao fazer suas rondas, nossa pesquisa encontrou , essas capelas peripatéticas fazem mais do que simplesmente circular fisicamente - suas viagens realmente geram lucro e valor para os participantes. O resultado final é uma "economia" local de origem local, baseada em valores compartilhados e não em dinheiro.

Rituais e relíquias

Para entender o impacto econômico da tradição da pequena capela popular, passamos dois anos estudando a circulação de Marys em duas cidades do sul do Brasil: Curitiba, que tem 1,76 milhões de habitantes; e Campos Novos, uma pequena cidade ao sudoeste de lá.
Nosso estudo , publicado em fevereiro no Journal of Macromarketing, encontrou diferenças no tamanho e nível organizacional dos pequenos movimentos de capelas de cada cidade. Mas em ambos os lugares, todos neste ritual recebem algum tipo de benefício, seja econômico, espiritual ou social - criando o que se chama " sistemas de valores híbridos ".
O sistema de Curitiba é bem coordenado pela igreja, com aproximadamente 100 mensageiras voluntárias (mensageiros) que administravam aproximadamente 10.000 capelas pequenas de casa para família.




Mensageiras ou mensageiros na missa de Curitiba. Daiane Scaraboto

Em Campos Novos, que tem 32.800 habitantes, o mercado foi menos robusto. Aproximadamente 100 marias circulam entre os católicos locais, supervisionados por cerca do mesmo número de mensageiras.
Para as comunidades participantes em ambas as cidades, o efeito das capelas em movimento é criar uma economia alternativa , baseada não nos valores capitalistas tradicionais, mas na participação, na comunidade e na fé.
O dinheiro, naturalmente, desempenha algum papel. As famílias fazem doações monetárias à Igreja Católica pela honra de hospedar uma capela. Algumas pequenas capelinhas ainda estão equipadas com o próprio slot para moedas.
Em Curitiba, descobrimos que essas pequenas contribuições ganham a igreja cerca de 1,5 milhão de reais (aproximadamente US $ 500.000) por ano. Em Campos Novos, o lucro da igreja foi significativamente menor, provavelmente gerando a arquidiocese local apenas vários milhares de reais.




Centro histórico de Curitiba, onde 10.000 estatuetas de Mary circulam todos os dias entre centenas de milhares de famílias. Francisco Anzola / flickr , CC BY

O dinheiro não pode te comprar fé

As famílias de acolhimento e os membros da comunidade vêem benefícios menos tangíveis, mas igualmente valiosos, da Marys viajando.
Para mensageiras leigos, é status social: trabalhar como representante da igreja de sua vizinhança é um papel de prestígio. Da mesma forma para as famílias, paróquias e comunidades interligadas pela visita regular dessas pequenas capelas.
Existe também um valor espiritual. Para os católicos, Maria, como mãe de Jesus Cristo, é uma das figuras sagradas mais poderosas, e os destinatários das pequenas capelas que a abrigam se sente abençoadas pelo seu acesso à divindade, ao apoio e à boa sorte.
A igreja católica brasileira gerencia cuidadosamente esse aspecto das visitas da capela, apresentando-as como fonte de conforto. O "movimento" de Marys, diz a doutrina da Igreja, e ao fazê-lo, sustenta seus devotos emocionalmente .
As capelinhas muitas vezes se tornam um símbolo local favorecido de seu grupo familiar, transcendendo seu significado religioso para ser, simplesmente, objetos amados e familiares.
página e o blog Facebook do Movimento das Capelinhas de Curitiba revelam que famílias de acolhimento, mensageiros e sacerdotes celebram a Marys viajando. Depois que uma família publica sobre a chegada de uma capela a sua casa, outros comentadores reenam suas histórias de visitação.




Uma captura de tela da página do Facebook dedicada à circulação das capelas da Virgem Maria em Curitiba.

A igreja também leva ao Facebook e ao púlpito para reconhecer os voluntários que ajudam a circular as capelas, mesmo honrando-as em missas especiais. Os prósperos participantes no movimento da pequena capela lhes conferem um status social especial, ou o que chamamos de "valor reputacional" - outro benefício criado por esta economia alternativa.
A igreja promove ativamente o valor social e reputação das marias. Quando uma nova igreja se abre na cidade, por exemplo, as pequenas capelas receberão novas rotas de circulação como boas vindas aos novos paroquianos.
Os sacerdotes em Curitiba treinam e orientam os mensageiros da pequena capela, ajudando a garantir que as marias circulem de forma mutuamente benéfica para todos os participantes, econômica, espiritual, social ou em vários níveis.
Um tipo de valor geralmente se traduz em outro. O valor espiritual se torna econômico sempre que alguém doa para uma pequena capela, por exemplo. Então, quando este dinheiro, por sua vez, é usado para educar um aprendiz de sacerdote ou para introduzir uma nova rota para uma pequena capela, o valor muda novamente, tornando-se social ou reputação.
As "marias que se movem" do Brasil podem não ser capazes de afastar o Brasil da sua profunda recessão , mas nossa pesquisa revela que esses sistemas híbridos possuem potencial para combater o mal-estar econômico, embora ao nível local, lembrando aos católicos que, mesmo que o dinheiro seja em falta agora, amigos, família e fé não são.