terça-feira, 16 de dezembro de 2025

 


O poder sempre foi um teste espiritual para a Igreja, mas alguns bispos parecem tratá-lo como vocação. Alguns bispos dizem que a Igreja existe para servir, mas na prática parecem convencidos de que servir dá muito trabalho. O poder, ao contrário, oferece conforto, visibilidade e reconhecimento. Não exige conversão, apenas boa educação, silêncio oportuno e afagos bem calculados. Por isso, é tão fácil se aproximar dele, e tão difícil manter distância.

O Evangelho fala de pés lavados; a rotina episcopal prefere mãos bem apertadas, especialmente as que concentram influência. A toalha foi guardada, a bacia ficou apenas como símbolo litúrgico, e o discurso sobre serviço segue firme, desde que não precise sair do papel. Afinal, falar de humildade não obriga ninguém a praticá-la.

O poder não converte a Igreja, mas alguns bispos insistem em agradá-lo, como se dele viesse a salvação institucional. Não o enfrentam, não o questionam, não o incomodam. Preferem tratá-lo com delicadeza, justificando tudo em nome da prudência, do diálogo e da unidade,  palavras elásticas, sempre úteis quando é preciso explicar a ausência de profecia.

Quando o poder passa, a cena se repete: alguns bispos não resistem à reverência exagerada. Curvam-se com naturalidade, sorriem com devoção e ajustam o discurso para não criar constrangimentos. A profecia, essa sim, fica para depois... ou para outros.

Os pobres continuam presentes nas homilias, mas raramente nas decisões. Servem como tema, não como critério. Já o poder está sempre por perto, orientando escolhas, definindo prioridades e organizando silêncios. E assim, sem perseguição e sem conflito, a Igreja vai se acomodando, não ao Reino de Deus, mas às conveniências do momento.

No fim, a ironia é clara: fala-se muito de cruz, mas prefere-se a segurança do palanque; prega-se o serviço, mas pratica-se a proximidade estratégica; invoca-se Jesus, mas com cuidado para que Ele não incomode demais. Porque ajoelhar para servir exige conversão, enquanto curvar-se ao poder é apenas questão de costume.

Texto reflexão e imagem:  redes sociais.

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